Eu pouco assisto TV, mas confesso que fico espantado com os anúncios que tratam do assunto “como deixar seu corpo em forma”.
As promessas feitas são do tipo: “É fácil ter um abdomem definido”, “Transforme rapidamente seu abdomem flácido em um abdomem sexy”, “Incrível: este exercício é um milagre”, “Resultados visíveis em apenas poucas sessões de 3 minutos”, e mais algumas outras bobagens.
Mas o impacto deste tipo de pensamento não é restrito a este assunto.
Recentemente recebi um pedido de um Diretor de Recursos Humanos, que me informou sobre a situação de um dos Diretores da sua empresa que, apesar de possuir uma grande experiência, insistia em querer que tudo fosse feito do jeito dele, ignorando os feedbacks anteriormente fornecidos e que apontavam para seu baixo desempenho e para os impactos do seu comportamento em sua equipe.
Seu superior, o Presidente da empresa, manifestou forte preocupação com esta situação e pediu que um processo de “executive coaching” fosse contratado para mudar o comportamento daquele Diretor. Ele gostaria de ver uma mudança significativa no comportamento do diretor dentro de poucos meses.
O Diretor de Recursos Humanos me perguntou se eu poderia realizar o trabalho de “executive coaching” para aquele Diretor.
Como todas as pessoas que compram algo que promova “milagres” para ajudá-los a entrar em forma, o que ele me disse era que “queria um consultor especializado em “milagres” para mudar rapidamente o comportamento daquele executivo da empresa”.
Eu disse a ele que os hábitos comportamentais das pessoas costumam ser desenvolvidos nos primeiros 10 anos de vida, e que a partir de então eles são inconscientemente reforçados ao longo da vida. Logo, esperar mudanças de curto prazo nos hábitos comportamentais apresentados pelas pessoas – especialmente daquele Diretor que já tinha mais de 10 anos de idade - era o mesmo que acreditar em “milagres”.
Identificar as mudanças comportamentais necessárias e mostrá-las ao executivo seria algo muito simples. No entanto mudar comportamentos é sempre algo extremamente difícil e que, mesmo nos casos de sucesso, exige muito tempo.
O processo para obtenção de mudanças comportamentais é composto por 3 estágios que obedecem uma sequência:
1. Conscientização: o executivo precisa genuinamente “concluir” que de fato ele está se comportamento da forma como está se comportando, e que isso está provocando impactos que não são aqueles esperados pela empresa. Muitas pessoas não aceitam que estão se comportamento da forma como estão de fato se comportando e preferem acreditar que estão se comportando como elas “gostariam” de se comportar. Enquanto não houver a conscientização para a necessidade de mudanças, qualquer esforço será puro desperdício. “As pessoas valorizam muito mais as suas próprias conclusões do que aquilo que lhes é dito”.
2. Desejo de Mudança: apenas a conscientização a respeito da necessidade de mudanças não basta, pois ela apenas representa a abertura para o início de uma longa jornada. É preciso que a pessoa de fato apresente o “desejo de mudar” seu comportamento. Este desejo de mudanças costuma ficar evidente quando a pessoa “pede ajuda” para a mudança. “As pessoas valorizam muito mais aquilo que elas pedem do que o que lhes é oferecido livremente”.
3. Disciplina e Determinação: ter a consciência da necessidade de mudança e ter o desejo de mudar são passos fundamentais, mas não são suficientes para garantir o “processo de mudanças”. Como o próprio nome já diz - “processo de mudanças” - estamos falando de um “processo”, algo de “longo prazo”, que é “doloroso” porque mexe em comportamentos estabilizados e repetidos inconscientemente ao longo de toda uma vida. Durante a longa – e dolorosa – jornada de mudanças, várias serão as “recaídas”. Só com muita “disciplina” e com muita “determinação” será possível esperar que mudanças ocorram.
A conclusão logo salta aos olhos: “Só a pessoa poderá fazê-lo ... se ela quiser, quando ela quiser, com muito sacrifício, disciplina, determinação e inúmeras recaídas”.
E a consequência se mostra óbia: “Se a empresa quiser e puder esperar...”
Uma proposta de trabalho de coaching - honesta - precisa considerar a necessidade de discutir, de modo absolutamente transparente com a pessoa envolvida, todos os aspectos relacionados com a “conscientização” sobre a necessidade de mudança, da identificação da “vontade de mudar”, e da “disciplina” e da “determinação” requeridas para realizar a mudança e precisa considerar a elaboração de um relatório conclusivo a respeito da real possibilidade de obtenção das mudanças objetivadas.
“Milagres” podem acontecer, mas no mundo corporativo não dá para apostar nisso.
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