Ela havia ficado tão furiosa com o comportamento do seu par que chegou a afirmar ao Presidente da empresa que “não conversaria mais com aquele executivo”.
Durante nossa conversa eu a indaguei a respeito do motivo que a levou a ficar tão irada e ela afirmou que “o executivo havia tramado de maneira sórdida para atingir sua imagem, levando ao Presidente da empresa um assunto que deveria ter tratado com ela diretamente, além de ter levado o Presidente a interpretar que a culpa pelo problema em questão havia sido dela e de sua equipe, quando na verdade ela tinha certeza de que a culpa era da equipe daquele executivo”.
Confusão formada. Duas pessoas do primeiro escalão envolvidas. Mais um problema para o Presidente.
Eu disse a ela que acreditava que ela era uma pessoa que carregava consigo alguns “valores” fortemente consolidados.
Em seguida perguntei qual era o “valor” que ela carregava dentro de si, que ela considerava como sendo um dos seus principais valores, e que havia sido atingido pelo seu par na diretoria.
Ela me respondeu de pronto: minha imagem de pessoa íntegra.
Indaguei então se ela havia sentido que sua imagem de pessoa íntegra havia sido abalada pelo comportamento do executivo.
Ela, já demonstrando alguma irritação, me disse que sim e afirmou que não admitia que ninguém tentasse atingir sua imagem de integridade, pois isso era algo intocável para ela.
Eu sorri para ela e lhe disse:
Deixe-me fazer uma brincadeira com você por favor. Suponha que eu a convide para almoçarmos e que, caminhando na direção do restaurante, um bêbado passe por nós e diga para você:
“Ô gostosa, passou a noite toda comigo e agora finge que não me conhece”.
O que você faria? Como agiria com o bêbado? Ficaria muito brava com ele?
Ela então me respondeu sorrindo:
É claro que não ficaria brava com ele. Coitado, ele nem saberia o que estava fazendo. Ele não me atingiria com tal comentário.
Então eu lhe dissei:
Quer dizer que, mesmo com este comentário terrível a seu respeito você não sentiria que este importante valor – sua integridade – teria sido atingido pelo bêbado. Correto?
Ela imediatamente confirmou dizendo: é claro que isso não atingiria minha integridade ... coitado ... é só um bêbado ..
Emendei outra pergunta:
E por que então uma outra pessoa conseguiria atingir e abalar a sua integridade? Em outras palavras, se você tem certeza de que é uma pessoa integra, como alguém poderia retirar este valor de dentro de você? Bêbado ou não bêbado...
Ela parou surpresa, pensou um pouco, me olhou fixamente e respondeu:
Puxa vida, sabe que eu nunca pensei nisso antes...
E você tem razão! Ninguém pode me tirar este valor porque ele está dentro de mim...E por que eu me irritei então?
BINGO! Este é o sinal da conscientização sobre o que precisa ser repensado.
Deixei uma “lição de casa” para ela fazer durante o final de semana. Pedi que pensasse e elaborasse uma lista das situações que disparavam este comportamento de irritação e de raiva nela por tentarem atingir sua imagem de pessoa e profissional íntegra.
Na semana seguinte nos encontramos, e ela, com uma lista nas mãos, me disse:
Você não imagina como foi difícil este fim de semana.
Como foi difícil mergulhar dentro de mim e encontrar estas respostas. Mas você não imagina como me sinto feliz por ter conseguido entender o quanto eu me aborrecia sem motivo.
A lista está aqui, podemos conversar sobre cada situação, mas hoje estou me sentindo outra pessoa, como se tivesse acordado para uma nova forma de ver a vida.
Desnecessário comentar os passos seguintes, a elaboração do plano de ação, etc.
A mensagem que quero deixar com este artigo é:
Mais de 90% dos nossos comportamentos são inconscientes, automáticos, repetidos desde os nossos 8-10 anos. Reagimos como reagimos, nos comportamos como nos comportamos, quase sempre de forma inconsciente. E as nossas reações não verbais chegam primeiro do que as nossas palavras. É preciso buscar, de modo consciente, identificar os “gatilhos” que disparam estes comportamentos inconscientes, e questionar o porque destes comportamentos, pois a conclusão quase sempre é: eles eram disparados para proteger algo que não precisa ser protegido contra terceiros - nossos valores.
Abraços
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