Durante os processos de executive coaching que realizo, sempre acabo percorrendo um caminho muito parecido.
O executivo apresenta forças e oportunidades de melhoria segundo seus liderados, com base em uma análise que compara suas práticas de liderança com as práticas mundialmente consagradas para um líder.
O executivo recebe também um relatório preparado com base em uma pesquisa que realizo com seus stakeholders e no qual aparecem respostas para 3 perguntas, dentre elas a 2ª pergunta: o que ele precisa mudar?
Invariavelmente neste momento o executivo olha para as práticas de liderança que se mostram como “oportunidades de melhoria” e para as respostas para a pergunta sobre “o que ele precisa muda” e se dá conta de que existe algo que liga as duas coisas.
É neste exato momento que conversamos a respeito da influência do ator no personagem.
Um ator geralmente entra em cena no teatro umas 3 vezes por semana, duas horas cada apresentação. Naquele período ele vive um personagem para o qual recebeu um script, ou papel na linguagem popular. Ele procura viver aquele personagem de modo fiel ao papel esperado.
Antes de entrar em cena e depois de terminar a apresentação, ele volta a ser o ator, a conversar com seus colegas, seus familiares e com o publico em geral.
Alguns poucos atores (atrizes) acabam por alguma razão se deixando influenciar pelo personagem que representam, passando a apresentar comportamentais que não eram naturais até então. Esta confusão normalmente acaba trazendo sérios problemas para a vida pessoal e consequentemente para a vida profissional.
A confusão entre a fama do personagem e a do ator (atriz) normalmente conduz à perda da identidade pessoal, com sérias e dolorosas consequências, que não é objeto de foco neste artigo.
Agora voltemos ao executivo. Ele entra em cena todos os dias, dez ou mais horas por dia, durante muitos anos de sua vida, representando um personagem chamado executivo x (CEO, Presidente, Diretor Comercial, etc..).
Como evitar que ocorra a influência do ator no personagem e do personagem no ator?
Impossível deixar o ator na portaria e deixar entrar só o personagem. Impossível deixar o personagem na porta de casa e deixar entrar só o ator. Um influencia o outro
Quantos relacionamentos se deterioram porque o executivo chega em casa e continua agindo com seus familiares como se fossem os funcionários de sua equipe? E em alguns casos como se fossem seus subordinados.
Quantos executivos acabam perdendo chances de progresso ou mesmo seus empregos porque agem de modo paternalista na empresa, protegendo seus liderados, tentando evitar que seus erros apareçam, e tantos outros comportamentos?
É natural que as oportunidades de melhoria apontadas pelos liderados sejam consequência dos comportamentos que o executivo “precisa mudar” e que são apontados pelos seus stakeholders.
Quanto mais alto se chega profissionalmente, mais as oportunidades de melhoria são de natureza comportamental.
É por isso que neste momento do processo de coaching eu digo ao executivo que “mudar deixou de ser uma opção e passou a ser uma obrigação”.
Não fui eu quem identificou o que ele precisa mudar. Não foi ele quem identificou o que ele precisa mudar. Foram seus stakeholders que identificaram estas necessidades de mudança, e preocupados com a carreira dele, desejando seu progresso, foram honestos e lhe apresentaram suas contribuições.
Mudar deixa de ser uma opção. Os stakeholders estarão à disposição para apoiar o plano de mudanças. O coach estará apoiando o processo, ajudando na identificação de estratégias para o processo de mudanças, pesquisando a percepção dos stakeholders em relação à mudança obtida, mas a maior parte do trabalho, sem dúvida alguma, será do próprio executivo.
É fácil identificar o que precisa ser mudado. Não é fácil mudar. Mas não é uma opção. É uma obrigação.
É por isso que o seu maior inimigo mora dentro de você mesmo. E só você pode enfrentá-lo.
Um forte abraço